A ESTRUTURA DO CASAMENTO

CAPÍTULO III

A questão do divórcio entre crentes e posterior novo casamento é um assunto discutido há centenas de anos. Já causou guerras, divisões religiosas, dividiu países, assassinaram-se rainhas, criaram-se inimizades, quebraram-se regras. Mas o assunto é tão actual e importante hoje como era no passado.

Já outras pessoas leram o que escrevi. Algumas delas ficaram escandalizadas com o escrito. Não me importo com os comentários. O que me entristece é a fraqueza das convicções que existem nas comunidades cristãs e a ligeireza da argumentação.

Chegaram a dizer que de I Coríntios 7, versículos 6 a 16, eram somente para crentes que eram casados com não crentes. Sobre esta passagem e para que não haja dúvidas analisemos os versículos.
Versículos 6 a 9: Desejo de Paulo para os solteiros(as) e viúvos(as) e respectivos conselhos.
Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento.
Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra.
Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu.
Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se
.”

Versículos 10 e 11: Instruções de Deus aos casados, sobre possíveis separações.
Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido.
Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher
.”

Versículos 12 a 16: Conselhos para aqueles que são casados com não crentes.
Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe.
E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe.
Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos.
Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.
Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”


Alguns dos argumentos a favor do novo casamento, abalam e até destroem aquilo que podemos considerar a estrutura do casamento.

Casamento é Aliança
Um argumento utilizado para a aceitação do novo casamento é que a primeira vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e a posterior pregação do evangelho a todas as nações, deveu-se de certa maneira ao adultério que os judeus cometeram ao afastarem-se de Deus. Então Deus criou uma nova aliança com o sangue de Cristo. Assim sendo, Deus quebrou a aliança com os judeus e fez a nova aliança com toda a humanidade integrando também os judeus neste novo concerto. Com este conceito baseado novamente em Mateus 5:32 e 19:9, se houver adultério pode-se casar de novo, pois se Deus fez uma nova aliança por causa da “prostituição” também as pessoas podem fazer.
Isto é dar gato por lebre, ou seja, para se defender os pontos de vista do seu interesse, deturpam-se os factos e motivos reais, com uns parecidos e esperam apanhar os incautos para a sua causa. Argumentos como estes anulam a fidelidade de Deus, pois que com este argumento, Deus é um anulador de contratos, alguém em quem não se pode confiar, anulando assim o poder da obra salvítica de Cristo na Cruz. Aconselho vivamente a leitura do livro do profeta Jeremias. Ambos sabemos e experimentamos a maravilhosa segurança que é entregar a vida nas mãos Daquele em que unicamente podemos confiar, pois Ele não muda nem Nele existe sombra de variação. Deus é a única aliança segura.

Casamento é Relacionamento
Quando duas pessoas se casam, estabelece-se o mais íntimo de todos os relacionamentos.
Como argumento de defesa, para o novo casamento disseram-me que Deus tinha dito que não era bom o homem estar só, por isso voltar a casar era normal porque era uma vontade de Deus (Génesis 2:18)
À primeira vista parece um bom argumento, mas analisemos:
Quando Deus disse, que não era bom o homem estar só, e lhe arranjou uma companheira, o contexto é, que não é bom que ninguém viva isolado, pois Adão era o único ser humano, a sua companhia eram os outros animais. Deus não quer que ninguém viva isolado dos outros filhos de Deus, da família, da sociedade. É claro que o cônjuge deve ser o primeiro e o mais importante dos relacionamentos entre os humanos. A solidão é um dos grandes problemas da sociedade. As pessoas são um número no meio das estatísticas, chega-se a estar só no meio de uma multidão.
A quebra de um relacionamento íntimo só acontece quando se julga que pode haver alternativa, por isso não vale a pena lutar com todas as armas espirituais, na presença de Deus.
O argumento da solidão, serve unicamente para desviar a atenção do desejo de Deus e tentar justificar o injustificável.

Casamento é Discernimento
Outros sem argumentos argumentavam que nisto do divórcio e novo casamento havia outras opiniões. Este é um argumento típico do humanismo liberal, já com características do pós-modernismo. Estamos a falar de pessoas da mesma fé, e não podemos entrar com argumentos em que a consciência é que dita a posição. Faz-me lembrar a discussão secular acerca do próprio divórcio, que utilizam argumentos parecidos nas discussões acerca do aborto ou da eutanásia ou outro qualquer assunto polémico. Uns apoiam, outros são contra, é tudo uma questão de opinião e de consciência. Atitude sem discernimento para medir as consequências espirituais das decisões que tomam e que apoiam outros na mesma causa. Esta é a atitude típica da nossa época, em que o absoluto é relativo. Deus é o grande reparador de relacionamentos quebrados e Cristo é o absoluto. Atitudes que mostram uma falta de relacionamento verdadeiro com o Pai, pois a sabedoria é distribuída liberalmente por aqueles que a desejam. Quando alguém casa deve saber discernir o que ia no coração de Deus quando criou o mais íntimo de todos os relacionamentos, o casamento.

Casamento é Vitalício
É aceitação geral que a vontade de Deus para o casamento é que seja vitalício, até aqui de acordo, mas interpretam literalmente Mateus 9:19, dizendo que embora o divórcio seja uma tragédia, a infidelidade conjugal é um pecado tão cruel contra o cônjuge inocente, que este tem o justo direito de por termo ao casamento mediante o divórcio. Neste caso, ele ou ela está livre para casar-se de novo com um crente.
Há pecados tão cruéis como a infidelidade. Conheço casos de cônjuges que agridem violentamente o outro, chegando inclusivamente à tortura psicológica e até à física. O que estas interpretações nos estão a dizer, é que Deus é sadomasoquista, pois permite o novo casamento por infidelidade, mas não permite por maus-tratos, desde que estes não incluam abusos sexuais. Pode-se bater no cônjuge, nos filhos, abusar da autoridade, deixar passar fome, ferir, maltratar e tudo o que se possa imaginar, não se pode é praticar sexo fora do casamento. Nem no mundanismo se encontram interpretações tão aberrantes, para se defender uma opinião. A vontade humana sobrepõe-se à vontade de Deus, e deturpa-se os correctos desejos de Deus para a humanidade. Embora no coração de Deus o casamento seja vitalício, Deus não é cruel e, por vezes, a separação é a atitude correcta, ainda que de último recurso. Mas separação não é sinónimo de anulação, e o Espírito de Deus é o consolador suficiente para o cônjuge que fica só.

Casamento é Compromisso
Certamente já assistiu a casamentos cristãos. A certa altura da cerimónia os noivos comprometem-se a amar e a respeitar mutuamente. Alguns até fazem votos de amar até que a morte os separe. Estes compromissos são públicos e é obrigatório a presença de testemunhas. Actualmente em Portugal, os casamentos efectuam-se em duas fases. Primeiro diante das entidades civis e posteriormente perante a comunidade cristã. Compromisso a dobrar. É certo que vivemos numa época descomprometida, no entanto ainda se encontram pessoas que tentam honrar os compromissos, sejam escritos ou verbais, sejam com instituições bancárias, particulares ou outros. Compromisso é compromisso, e tem de se cumprir até as últimas consequências. As comunidades cristãs e os cristãos ao aceitarem e realizarem o novo casamento depois do divórcio, estão a dizer que aceitam a anulação do compromisso anterior e que entram no jogo da vida sem compromissos. Se a quebra de um compromisso no crédito concedido por um Banco pode acabar em tribunal com consequências imprevisíveis, convém avisar que no mundo espiritual as consequências de um novo casamento, quer para o próprio, quer para quem apoiou, são gravíssimas.

Casamento é Responsabilidade
Muitos andam enganados, pois julgam que só porque vivem na época da dispensação da graça, tudo é possível devido ao amor gratuito de Deus. Desenganem-se de tais pensamentos, pois com a liberdade em Cristo aumenta a responsabilidade. Não confundir liberdade com anarquia de atitudes. No Velho Testamento, só haveria adultério se fosse consumado o acto. O Mestre avisou-nos que cobiçar uma mulher é comparável à consumação do acto (Mateus 5:27 e 28). Se só a cobiça já é gravíssimo, a sua consumação não tem explicação. É dever de cada um pedir a Deus para não cair em tentação e que o seu Espírito nos livre do mal. É um acto de amor efectuar o mesmo pedido para com o cônjuge. É um acto de cobardia abandonar um pecador ao seu destino, quando se sabe que a oração do justo tem poder. Após o novo casamento, perde-se a autoridade para a realização de petições no trono da glória. Sabendo que se pode fazer o bem, opta-se pela auto-desresponsabilização. O novo casamento é idolatria, pois se no primeiro foi declarado que eram dois numa só carne, ao efectuar a segunda união, está a sacrificar-se uma das partes. O efectuar da cerimónia do novo casamento é como celebrar um culto sacrificial.

Casamento é Perdão
A atitude leviana da aceitação do novo casamento coloca em causa uma das áreas mais difíceis e mais importantes para um cristão, o perdão. Cristo reconciliou-nos com Deus. Reconciliou o ser humano com ele próprio, com os outros e com a própria natureza. O novo casamento anula toda e qualquer possibilidade da reconciliação. Se o cônjuge que adulterou, passado um tempo se arrepender e pedir perdão, em que situação ficará o novo casamento. Temos um advogado junto ao Pai para nos defender, e um Deus que pelo nosso arrependimento nos perdoa. Com o perdão retomamos o acesso à graça e às bênçãos que temos direito junto do Pai. Ao impossibilitar a reconciliação e o acesso ao cônjuge, em virtude de já se ter contraído outro casamento, está a esvaziar-se a maior de todas as graças, o perdão. Alguém quer ser perdoado 70 vezes 7 e não quer dar a oportunidade dos outros se arrependerem.

Casamento é Paciência
Conheço crentes que oraram pela salvação dos seus cônjuges, com paciência, perseverança e esperança ao longo de muitos anos. Alguns alcançaram o desejado, outros ainda não, no entanto não desistem. O novo casamento é o baixar de braços, é o desistir de lutar. “Então não teria Deus o direito de manifestar a sua justa cólera e o seu poder de justiça contra aqueles que se iam caminhando para a perdição e cuja maldade ele tem suportado com paciência todo este tempo.” (Romanos 9:22, na versão O Livro). Se Deus teve paciência para todos nós, quando andávamos perdidos, não deve um cônjuge ter paciência para com aquele que prometeu amar? Vivemos na época do tudo pronto, tudo rápido. A paciência deixou de ser uma virtude. Em todo o Novo Testamento, os cristãos são exaltados a serem pacientes e persistentes. Se os crentes ao longo da sua vida terrena não souberem cultivar este dom de Deus, certamente que quando chegarem as horas difíceis, vão optar pelos caminhos que julgam que são os mais fáceis. O esperar no Senhor, não existe para quem vai para o novo casamento.

Casamento é Testemunho de Fé
Pela fé recebe-se o testemunho da aprovação de Deus. Os que crêem e que pela fé O buscam recebem a recompensa. A falta de paciência anula a fé de que o Espírito de Deus pode falar ao coração do pecador e convence-lo do seu pecado. Anulada a fé para receber o que por direito é seu, o cônjuge, está aberto o caminho, não apenas para a busca de outro cônjuge, mas também para um deus à medida e que satisfaça os desejos. Quem não confia que Aquele que veio em nome do Pai pode resolver esta situação ou outras, está pronto a receber aquele quem vem em seu próprio nome.

Casamento é Amor
Situações de adultério geram sempre conflitos e desconfiança, acrescidos na época em que vivemos de um grande perigo para a vida de ambos os cônjuges.
Em adultério a carne leva a repudiar o outro, o amor não desiste.
Quando é maltratada, a carne sente revolta, o amor nunca perde a fé.
Quando é abandonada, a carne sente-se recalcada e pede vingança, o amor tem sempre esperança na volta.
Quando é trocada, a carne sente-se usada, o amor persevera em todas as circunstâncias. Não se troca um amor por outro. O amor é eterno. Sem amor perde-se o sentido de que o casamento é uma relação a três, e Deus não desiste do seu propósito como participante directo da relação. Mesmo que os outros queiram anular o contrato, para essa anulação ser válida, falta a assinatura do terceiro contraente, e não a terão, pois Deus é fiel aos seus princípios, à Sua Palavra e não alinha em esquemas. O novo casamento é a confirmação de que o amor do primeiro, não era como se declarou e que afinal não passou de um grande embuste. O cônjuge pseudo-inocente, ao casar novamente, acaba por ficar ao mesmo nível do que o que cometeu o acto abominável. É o não querer praticar o amor que Deus nos deu.

Casamento é Viver A Palavra
Quem quer buscar o novo casamento, arranja os mais diversos argumentos, como o ser uma vítima inocente, que não é justo ficar só, a questão financeira, o sofrimento pela falta de sexo, tudo o que possa imaginar pode ser usado. Arranjam-se versículos Bíblicos para apoiarem as suas opiniões, quase sempre fora do contexto, ou então com interpretações aberrantes. Os responsáveis pelas comunidades que aceitam e praticam este tipo de actos, são tão responsáveis como os que os praticam. Triste é ver os apertos de mãos e os abraços no dia do novo casamento, os mesmos que levam outros a assumir posições semelhantes. Ninguém pode ser feliz se anula a vontade de Deus. Quem semeia ventos, colhe tempestades. Viver a Palavra é interpretá-la exegeticamente correcta, e na certeza que por muito difícil e estranho nos pareça, Deus quer o melhor para cada um dos seus filhos.

Casamento é uma Prova da Regeneração
O mais grave de tudo, é que estamos a falar de pessoas que dizem que aceitaram Jesus como Senhor e Salvador, que a sua mente é renovada com os pensamentos de Deus, que são novas criaturas, que a sua vida mudou, que Deus e a sua soberania são o mais importante para eles e no entanto, num único assunto colocam em causa as promessas de Deus e hipotecam tudo o que receberam do Senhor. Nós somos o templo do Espírito, não o devemos conspurcar com atitudes da velha criatura. Somos uma nova criatura, a Sua Lei está nos nossos corações, e não é alterada pelos desejos da carne, nem por doutrinas agradáveis às concupiscências.

Casamento é Serviço
Se está quase a chegar a altura do teu casamento, pensa bem. É uma decisão importante na vida. É irreversível, nunca mais se será solteiro(a). O casamento é felicidade, mas é um caminho por vezes difícil, é o caminho do compartilhar, do servir e do dar o que se tem. Se tem dúvidas, mais vale não avançar. Não tenha medo do que os outros dizem. A noiva, a partir desse dia, terá direitos inalienáveis sobre o noivo, e vice-versa. O caminho será a dois. Ela passará a ser a sua prioridade e vice-versa. Com o casamento, a vontade passará a ser a dois. O jugo terá de ser igual. Não há dois dias iguais. O casamento não é um jogo, nem uma aposta. No casamento cristão, não há período experimental.

Casamento é Coragem
Mulheres e homens não são iguais. Não iguais fisicamente, psicologicamente, emocionalmente, nas perspectivas de vida, nem na formulação racional. Na expressão sentimental reside a maior das diferenças. O mundo das mulheres é diferente do mundo dos homens. Diferença não é sinónimo de superioridade ou inferioridade, de melhor ou de pior, só quer dizer que é diferente e é essa uma das riquezas do casamento e talvez de toda a humanidade, pois não existem duas pessoas iguais. Mas é preciso coragem para se casar, sabendo que se vai compartilhar o resto da vida com alguém diferente, de um mundo diferente. Quando acaba a paixão, quando vem o desencanto, quando o que rodeia parece mais atraente, quando se torna doloroso a convivência e a partilha, é preciso coragem para se assumir o compromisso e tomar a maior e a melhor de todas as decisões que tem de ser racional, a mulher tem de decidir, eu vou amar o meu marido e o marido, eu vou amar a minha mulher. O desencanto é a porta aberta para a intolerância, para a guerra e separação. Está decisão terá de ser de ambos, senão o jugo será desigual.

É legítimo que cada noivo tenha a expectativa de ser a única flor no jardim do outro. É legítimo cada um querer completar-se no outro. É legítimo ir-se para o casamento com expectativas de segurança e estabilidade. É legítimo esperar ser-se amado. É legítimo esperar um pouco de aventura. É legítimo querer ser-se co-participante nos sonhos do outro. É legítimo esperar ser-se feliz. Todas as expectativas são legítimas, mas só serão concretizadas se o casamento for a tal aventura a três. Deus, como o terceiro cônjuge. Ele é o legitimador. Com Ele, o casamento torna-se a felicidade máxima em todas as áreas. Um casamento nos braços de Deus é à prova de todos os riscos e mais algum. A presença de Deus no casamento, mantém a individualidade daquilo que Ele mesmo criou, ninguém precisa de se apagar. Afastar Deus de uma relação é mais perigoso que saltar de um avião a dez mil metros de altitude, à velocidade supersónica e sem pára-quedas.

Como conselho, peço que não vão para o casamento com o pensamento de querer mudar algumas coisas do outro. Por vezes existem pormenores, que não nos agradam, mas pode-se cair na tentação de julgarmos que temos a capacidade de obrigar à mudança. A frustração pode ser grande se o outro não se moldar à imagem que nós julgamos ser a correcta. Aceitem-se como são e como estão e entreguem-se a Deus e Ele fará o resto. Orem para que Deus una os vossos ministérios e concorram para a glória de Deus, com o exemplo da vossa união.

O casamento entre crentes, deve reflectir, a eternidade. Deus trabalha com os dois cônjuges como se fossem um. Grande é este mistério.