Capítulo VIII

CRISTÃOS SEM AUTORIDADE

Um dos problemas da sociedade actual é a falta de autoridade. Já poucos acreditam nos políticos, as autoridades policiais são vistas não como a defesa da sociedade, mas em certos casos como um problema. O sistema judicial e de investigação está constantemente sobre suspeitas de corrupção. Nos tribunais e consequentemente os juízes e funcionários são descredibilizados com a aplicação tardia da justiça e muitas vezes posta em causa a sua independência. Já poucos confiam em alguém. Esta é a imagem da sociedade actual. Independente do local ou país aonde se viva, não é grande a diferença de mentalidade dos cidadãos. A estabilidade, a segurança e confiança no futuro são quase utopias na sociedade moderna.
Mas o que se passa dentro das comunidades cristãs, não é muito diferente. As comunidades cristãs estão-se a esvaziar lentamente da autoridade recebida através da cruz e ressurreição.
A grande perda de autoridade vem da falta de convicções dos cristãos em aceitar e viver os ensinamentos Bíblicos. Já não se consegue discernir o significado da verdadeira liberdade que se encontra em Cristo.
Entre os temas em que as comunidades cristãs estão a perder autoridade diante das pessoas e de Deus é o do casamento entre cristãos que culmina com o divórcio e novo casamento.
O casamento foi a primeira instituição que Deus criou para o relacionamento entre os seres humanos. Hoje os cristãos não valorizam convenientemente este tipo de relacionamento. A prioridade não é famílias fortes e unidas, conscientes do papel de cada um, e do da família em geral. A valorização do individual, do espaço de cada membro e dos interesses pessoais são mais valorizados que o do colectivo. Discute-se mais a preponderância do controle da autoridade, em vez de se resolver e esbater as diferenças de maneira que cada um mantenha a sua individualidade e a unidade familiar não se quebre.
Houve tempos em que a união do casamento era feita à custa de um dos membros. A família tinha de se sujeitar e aguentar a tirania do membro que tinha mais influência. Tudo era permitido desde que não houvesse separação. Alguém tinha de aguentar.
Os interesses da sociedade em que se inserem os cristãos ditavam as regras do que se fazia nas comunidades cristãs. Erradamente ainda hoje é assim, e segundo as estatísticas a quantidade de divórcios é semelhante entre os crentes e os não crentes, e o seu número bastante elevado.
A família já não é prioridade. Existem comunidades cristãs lideradas por divorciados com um novo casamento. Outras lideranças casam os membros após o falhanço do primeiro casamento. Até parece que o casamento é uma busca experimental até que se encontre o cônjuge perfeito, segundo as necessidades e interesses da altura.
Deus compara a unidade do casamento com a unidade de Cristo com a Igreja, pois para Deus casamento é sinónimo de compromisso e considera a Igreja a Noiva de Cristo. Para um novo casamento das duas, uma: ou se anula os ensinamentos do Mestre e o seu exemplo e criamos uma doutrina à nossa medida ou então, mudamos de Cristo, ou seja de noivo.
Que autoridade tem uma comunidade que aceita o novo casamento após divórcio, quando outro dos seus membros tem problemas conjugais? Vão dizer o quê? Vão falar de sacrifício? De amor? Da segunda oportunidade?
Como se pode pregar a unidade e dar o exemplo de Cristo se já autorizaram a quebra da unidade do casamento e uma nova união? Anda-se de união em união até à desunião final.
Que autoridade tem uma comunidade cristã na sociedade quando as pessoas que sobem ao púlpito, sejam pastores, membros, músicos, cantores, líderes de qualquer ministério são divorciadas de crentes e casados em segundas núpcias com crentes, ou então são apoiantes desta causa. Certamente a sociedade vai aceitá-los como iguais, pois não há diferença, e nesse caso são apenas mais uns entre tantos. A promiscuidade pode trazer a igualdade, mas não o respeito.
Pode-se certamente falar de tudo, até por vezes correctamente, só que poucos vão ouvir e ninguém seguir. Como as comunidades já pouca influência têm nos seus próprios membros, não conseguem de maneira nenhuma influenciar o mundo que as rodeia.
Se houver quebra nas convicções certamente haverá abusos e criação de situações para se poder obter o que se quer e ninguém tem autoridade para refutar ou não aceitar algo com que já se concordou no passado e não se retractou.
A interpretação e doutrinação que autoriza o divórcio e novo casamento no meio cristão anula toda e qualquer autoridade de Deus na nossa vida, pois cria um Deus injusto e indiferente às dificuldades e problemas que podem surgir num casamento.
Que dizer a alguém cujo cônjuge têm uma doença que o impede de ter relações sexuais? Que dizer a alguém cujo cônjuge têm uma doença mental que perturba todo o relacionamento do casal? Que dizer a alguém cujo cônjuge não pode ter filhos? Casos piores do que estes podem surgir em qualquer casamento. O que vai um conselheiro de uma comunidade cristã dizer num caso difícil? Tenha calma, tenha paciência, tenha fé, vamos orar, Deus resolve, para Deus nada é impossível, e outras coisas tais. Que argumentos terá para assegurar à pessoa em dificuldade que Deus não é injusto?
Em situações complicadas vamos ter comunidades cheias de pessoas a pensar que mais valia ter tido um cônjuge adúltero, pois assim sempre se pode trocar por outro.
Como pode Deus autorizar resolver um problema com a maior das facilidades e aos outros dizer, aguenta, olha o amor? Um Deus assim é injusto e vazio de autoridade.
Hoje em dia a maioria dos casamentos já não são combinados. Os noivos unem-se por amor e trocam os votos do mesmo, diante de testemunhas e de Deus. Estes votos não são anulados mesmo com uma segunda união e manter-se-ão até que Deus no seu tempo os anule, ou seja, na morte. Pois ninguém deve separar o que Deus uniu, e esta é a verdade indesmentível.
Se os candidatos a nubentes tiverem consciência de que o casamento criará laços de tal maneira fortes que nenhum ser humano os pode desapertar, pensarão bem antes de se unirem, pois o abrasar só acontece quando já se pensa no aconchego. Só casarão quando tiverem a certeza de que o seu amor é forte o suficiente para aguentar duras tempestades, e têm de ter a certeza que a prioridade deixará de ser o seu ego e passarão a ser as necessidades da outra parte. A isto, chama-se compromisso total.
Comunidades cristãs que casam, descasam e voltam a casar os seus membros não fazem mais do que dizer à sociedade em que se inserem que não são diferentes deles, que aceitam levianamente quebras de compromissos. Por isso não a atraem para ao bom cheiro de Cristo e aos poucos está a preparar-se o terreno para o falso Cristo.
Se o Reino de Deus é a vontade de Deus na nossa vida, então seremos cidadãos desobedientes, porque a vontade de Deus não é a mesma que a nossa, e deixaremos de ser seus embaixadores e passaremos a representar apenas a nós próprios, e assim sendo não somos legitimados perante as autoridades mundanas e as espirituais.
A falta de convicção de que a união entre um homem e uma mulher é uma instituição divina e indissolúvel leva à falta de credibilidade dos cristãos. A perda de autoridade é total. Diante de Deus é sobrepor-se à Sua vontade, diante do mundo é igualar-se a eles, diante dos demónios é rebaixar-se à sua desobediência.
Por se deixaram engodar nas emoções, os cristãos estão doentes, fracos e abatidos. A pregação é vã, o louvor é música, a adoração não existe, a oração é carpideira.
As comunidades cristãs deviam criar legiões de discípulos, criam simplesmente simpatizantes, ou seja a sua imagem.