Capítulo V

A COBERTURA

É importante não esquecer que quando estamos a falar de casamento refiro-me apenas ao casamento entre pessoas que se dizem crentes, e que tudo o que escrevo é exclusivamente para crentes.
O casamento é a mais íntima e pura das relações e tudo o que for dito acerca do mesmo tem aplicação a qualquer relacionamento ou à vida cristã, certamente com as devidas correcções e aplicações.
O casamento por estranho que pareça é uma relação a três, homem, mulher e Deus. Por Ele nos conceder bastante espaço, na maior parte das vezes é esquecido. Isto é válido não apenas para o casamento, mas para toda a nossa vida. Quantas vezes não O deixamos de lado e nos esquecemos Dele? Se não fossemos filhos orgulhosos, teríamos uma vida bem menos complicada e com muito mais prazer em estar com Ele e ouvirmos atentamente o seu coração.
O matrimónio é um acto livre em que duas pessoas decidem unir-se. Diante de Deus não conta a formalidade. A intenção do futuro casal é mais importante que a cerimónia civil, religiosa ou outro contrato, no entanto a presença de testemunhas é vital e essencial, pois a natureza humana é pródiga em criar argumentos para anular compromissos conhecidos, quanto mais os desconhecidos.
No Velho Testamento Isaque conheceu Rebeca no primeiro encontro, não houve cerimónia. Mas nem tudo o que parece é, pois na realidade, quando Rebeca saiu de casa do pai, já tinha havido um acordo de casamento contratualizado entre um representante do futuro sogro, Abraão e o pai de Rebeca. Segundo os costumes e tradições da época o compromisso já estava assumido, para os noivos só faltava mesmo era o que nós hoje chamamos a consumação do casamento.
Hoje entre os jovens crentes está a tornar-se um hábito a prática de sexo antes do casamento, com ou sem compromisso de um possível contrato no futuro, argumentando que no Velho Testamento não havia contratos escritos, dando o exemplo do caso de Isaque e Rebeca. Esta interpretação, como já vimos anteriormente não é exegeticamente correcta.
Devo avisar que a prática de sexo implica um acordo de união permanente. No plano físico o sexo implica uma interligação penetrativa do mais íntimo possível. No plano metafísico-espiritual implica uma interligação penetrante entre os dois espíritos. A interpenetração é conjunta nas duas dimensões onde nos movemos, a física e a espiritual. Esta consequência da prática sexual é importante ser discernida, pois só assim conseguimos compreender a preocupação de Deus com a sobriedade da prática sexual. Por isto é que em toda a Bíblia é feito o apelo para que se mantenha o leito matrimonial sem mácula e os contactos extra-matrimoniais sejam veementemente repreendidos.
Se no plano lógico parecem despropositadas e até demasiado penalizadoras para o ser humano as atitudes correctivas e severíssimas de Deus que se diz Pai de amor, só assim conseguimos compreender que sexo é muito mais que um jogo de sedução e prazer. Corpo, alma e espírito tocam-se, interpenetram-se e misturam-se.
A conspurcação do espírito vai consequentemente perturbar a alma e por consequência o corpo.
Qualquer cristão sabe que a sua vida é mais do que existir. Uma vida equilibrada implica também um equilíbrio no espírito.
Nós cristãos vivemos segundo princípios espirituais, e esses, é que devem reger as nossas vidas. A disciplina espiritual é um exercício como qualquer outro, e decisões erradas podem trazer consequências catastróficas, entre elas a perda de relacionamento com o Pai.
Levanta-se a dúvida dos casamentos e divórcios dos não cristãos. É aqui que eles se encaixam. A área espiritual onde se movem é diferente da nossa.
Mesmo assim conheço casais não crentes, mesmo em segundas núpcias, que se dizem felizes e com uniões duradoiras. Criam defesas para manter os casamentos, algumas muito estranhas, mas por vezes eficazes. Mas como já deve ter apercebido a percentagem de casamentos reais é bastante baixa.
Em qualquer actividade dos não crentes, e aqui incluo os casamentos, não temos o direito de nos intrometer e dar a opinião. A maneira mais correcta de nos diferenciarmos é com as nossas atitudes, com os nossos actos, com a convivência de uns com os outros, com a nossa vida. Não devemos esquecer que vivemos em áreas espirituais diferentes e que a nossa luta não é contra pessoas.
Aqueles que ainda não aceitaram estar no único caminho, por si mesmo já estão separadas do amor de Deus. Quaisquer que sejam as suas opções de vida e o que quer que façam e quero dizer tudo, seja óptimo ou péssimo, construtivo ou degradante, a última coisa que precisam é de críticas e condenação, pois já se auto condenaram com a sua não-aceitação.
O que podemos e devemos fazer é interceder por eles e mostrar-lhes através da nossa vida com quem andamos, para verem que a eternidade para nós já começou e que também podem ter acesso a este dom gratuito de Deus.
A vida cristã é contra natura, ser cristão é contra a natureza humana.
Jesus disse, felizes os bondosos e modestos, felizes os que anseiam por justiça, felizes os misericordiosos, felizes aqueles cujo coração é puro, felizes aqueles que se esforçam pela paz e ainda disse mais, não se preocupem com as coisas desta vida, como o que hão-de comer e beber, com o dinheiro, com as roupas, Ele disse que devemos perdoar, que devemos interceder por aqueles que nos fizeram mal, que ao mal que nos fazem devemos pagar com o bem. Aos seus seguidores disse-lhes que aquele que quisesse ser o maior tinha de se tornar o servo, o que se humilhasse seria exaltado, ainda disse que o Reino de Deus não tinha aparência exterior (Lucas 17:20)
Sexo, dinheiro, poder, influência, emoções ao rubro, prazer exacerbado, conhecimento, são as peças do motor que fazem manter acesa a esperança da sobrevivência. Somos constantemente submetidos à exaltação destes valores que se dizem da actual sociedade. Por estes valores se luta, vive e morre. Muitos crentes, ficam a olhar para eles, pois são os adequados à velha natureza e mexem com todos os nossos desejos íntimos, e estão de acordo com a nossa massa original. Não é preciso nada para se aceitarem, pois são o natural da natureza humana, e entram em choque com a nossa nova natureza.
Numa sociedade com tantos xamãs, com tantas promessas de felicidade, com tanto humanismo, nunca em toda a história se viu tanta miséria humana, quando a liberdade está ao alcance de quem a quiser.
Jesus viveu e pregou o que conhecia e o que praticava.
O evangelho é viver hoje a eternidade, é libertarmo-nos de vez da velha natureza e assumir a nova natureza em Cristo Jesus.
O justo viverá da e pela fé.
Para Deus tudo é possível, Ele é a única cobertura para a segurança e protecção dos seus filhos. A vida, o casamento, a família, a profissão, tudo, mesmo tudo, até a nossa fé, devem ser colocadas debaixo do único tecto seguro, o Poder de Deus.